domingo, 22 de dezembro de 2013

Temos nosso próprio tempo

"O tempo é o melhor remédio", "Só o tempo vai curar", "Com o tempo você vai entender". Legal, mas quanto tempo? Quanto tempo temos que dar ao tempo para que este faça sua mágica?
Sempre me perguntei isso, sempre estranhei essas frases. Se existe um tempo exato pra se curar, pra se crescer, pra se mudar, se eu não o faço nesse intervalo, me perco de vez? Se cada um tem seu próprio tempo, por que o meu não pode ser daqui 2 segundos e eu não precisar esperar nada? 
Sim, tempo é um termo relativo, mas pra mim ele vai além de uma mera relatividade de quantas voltas no relógio cada um precisa. Ele vai até quantos relógios cada um precisa pra cada coisa da sua vida, cada um dando uma quantidade diferente de voltas e se você consegue administrar essa quantidade.
Mas quando eu penso em como o tempo funciona pra mim, não é nada disso que eu vejo. Meu relógio na verdade é um despertador. Só percebo quanto tempo se passou depois que ele me acorda, que ele grita e me assusta e me faz ver que já ta na hora de levantar de novo. Não tem um longo e lento processo de pensar enquanto milhares de tique-taques ecoam na minha cabeça. Tem um alarme que fica tocando até eu perceber que eu tenho que programá-lo pra próxima coisa.
Esse negócio de o tempo ser o melhor remédio pode funcionar pra muita gente, mas pra mim isso é uma desculpa pra não fazer nada, pra ficar estagnado pensando em respostas que você já tem, pra adiar uma decisão que você tem medo de tomar.
Mas sei lá né, vai que com o tempo eu mude de ideia...



Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo

(Tempo Perdido - Legião Urbana) 

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Homem aos pedaços

Tinha os olhos da mãe e o cabelo do pai. O queixo do avô e as orelhas do tio. O nariz tinha um pouco do pai, mas com certeza puxara da avó. Ele ia ouvindo isso quando pequeno e se sentia só isso: um monte de pedaços de outras pessoas. Nada era dele. Nada era único. Talvez o coração. 
Anos depois ele percebeu que a alma também não era dele. Tinha um pedaço do amigo de infância que ele jogava bola. Um pedaço da primeira menina que quebrou seu coração. Um pedaço do professor que o ensinou a ler. Um pedaço do vizinho que brigava com ele quando fazia barulho tarde da noite. Um pedaço da primeira viagem com os amigos. Um pedaço da carreira que ia seguir...
Depois ele descobriu que não foi sempre feito dos mesmos pedaços. Aquele que era da menina que partiu seu coração saiu e deu lugar pra um pedaço maior, o daquela que se tornou a última ao seu lado. O do amigo de infância dividiu espaço com o do atual melhor amigo. O do vizinho foi substituído pelo de um senhor de idade que o cumprimenta sorrindo quando vai visitar os pais. E vieram mais pedaços: da primeira casa, do primeiro carro, dos inúmeros empregos até aparecer o certo, dos amigos que permaneceram depois de tantas mudanças. Descobriu que parte dele pertencia ao filho, mas que parte de seu filho também estava nele. Descobriu que em seus pais repousava uma parte dele. Que todos que ali tinham deixado pedaços haviam também levado alguns consigo.
E ai ele se sentia tudo isso: um monte de pedaços de outras pessoas. De pessoas e coisas que ele sempre teria dentro dele pra nunca esquecer. De momentos em que os pequenos pedaços davam lugar pra grandes pedaços que o faziam crescer e ser quem ele é. 
Nada era dele. Nada era único. Tudo era compartilhado, vivenciado em conjunto. Nada era SÓ dele. 
Talvez, mas só talvez, o coração.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

E se o inverso for meu lado certo?

O sonho de muitos é a USP. Começou muitos anos atrás e vai durar mais muitos anos. Devo dizer que era o meu também. Depois vinha UNICAMP e depois a pública que viesse era lucro. Quem me conhece sabe que não foi o que aconteceu. Não passei nem pra segunda fase, e pro meu curso as federais estavam muito concorridas. Resultado: nada.
O plano B era fazer um ano de cursinho e tentar de novo. Ai apareceu o Prouni. Decidi ver quais faculdades tinham e me apareceu: Mackenzie. Na época nem sabia o endereço da faculdade. Pensei, pensei e me inscrevi. Não passei. Fui continuando com o plano B enquanto não aparecia a segunda chamada. Apareceu. Pensei e pensei de novo. "Mas, e a USP? E o sonho?". Mas, como eu já disse em um texto aqui, não é porque a vida te leva pra um caminho diferente que este seja o errado. Na verdade ele pode ser o mais certo. Fui.
Menina pouco vaidosa, com pouco dinheiro e que estudou em escola pública a vida inteira surgindo em uma universidade em que 99% das pessoas são ricas. Posso muito bem dizer que estava receosa. Mas eu segui, decidida a ser eu mesma e não ligar se eu fosse tão diferente do resto. Quer saber? Sou bem diferente do resto. Mas e dai?
Muitas pessoas fazem o caminho inverso. Estudam em escolas particulares toda a vida, passam em uma universidade pública e aprendem a viver com pessoas mais pobres que elas, percebendo que são pessoas como quaisquer outras. Eu fiz um caminho diferente, e aprendi a mesma coisa. Aprendi que o fato de alguém não ter dificuldade em desembolsar quase R$2000 por mês não necessariamente diz que ela é melhor ou pior do que ninguém. Ter dinheiro não quer dizer arrogância. E que alguém que não desembolsa esse dinheiro pode muito bem se sentir incluído.
Uma coisa que sempre me fez muito bem, desde a GV, foi ter experiências com grupos de pessoas. Na GV aprendi a gostar das pessoas mais diferentes. No Mackenzie aprendi a ver diferenças em pessoas aparentemente tão parecidas. E além disso, óbvio, estou aprendendo muito. Pra você que olhou com preconceito minha decisão: será que eu estou pra trás mesmo? Aprendendo tudo que eu estou aprendendo dentro e fora da sala? Eu acho que não.
Quando eu era pequena minha cor favorita era vermelho. E foi por muitos anos. Alguns anos atrás simpatizei bastante com o roxo e troquei a preferência. Quer saber? Voltei a amar vestir vermelho.











#IssoéMackenzie